sexta-feira, 30 de setembro de 2011

NOTÍCIAS DA FRENTE


"Também conhecemos livreiros que faziam política e as sua lojas constituíam alfurjas que mantinham uma instituição bem ibérica – a conspiração política, estado permanente dos dois povos peninsulares, sempre virados para a revolução palaciana, para o caudilhismo, que se transportou para a América Latina. Não dizia o Eça que nós éramos a pevide e os outros, os brasileiros, a melancia...?" [Jorge Peixoto]

[no dia de S. Cláudio] Com os dias a diminuir, os trabalhos do amador de livros a quem não importa a vida alheia, mas sim a D. Bibliografia (cf. Matos Sequeira), são de enorme canseira. Começam os Leilões de Bibliotecas e as estantes altas garantem o seu papel, com graça e proveito. O negócio do livro abunda em método e labor. Os catálogos caem – se os CTT assim o entenderem – no regaço do aprendiz, que ainda tem essa capacidade de se espantar por todos esses livros em socorro perpétuo. O amador de livros deve escolher a peça bibliográfica com afago, certamente, mas também com a promessa de câmbio futuro. É que o sr. Gaspar das finanças já pronunciou o amanhã que nos espera. O nosso tormento é, portanto, salvar o livro e amparar o corpo. Não é pouco o nosso espanto e farta a nossa bolsa, porém arrematemos na praça sem hesitações ou gemidos de pânico. O amanhã cantará, por Santa Catarina!

- informa-se os estimados leitores & amantes de livros, que a ilustre & determinada Livraria Letra Livre irá dar a lume (edição fac-similada) a incontornável obra de Rubens Borba de Moraes, "O Bibliófilo Aprendiz". Estimada e grande merecimento, a peça bibliográfica de Borba de Moraes faz falta colossal (cf. Dicionário Perpétuo do Gaspar das finanças) aos aprendizes de bibliofilia.

- nos próximos dias (do dia 10 a 15 de Outubro, sempre às 21 horas) vai à praça uma "Biblioteca de Literatura, Arte e História, Livros raros ou curiosos coleccionados por um distinto bibliófilo portuense". Organização esmerada da Livraria Manuel Ferreira, sitiada na Invicta. Consultar o sempre estimado catálogo AQUI (II vols). O Leilão realiza-se na Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto), Porto.

- CATÁLOGOS do Mês: com a pontualidade costumeira está online o Boletim da Livraria J. A. Telles Sylva; a Livraria Castro e Silva apresenta o seu 129º Catálogo com (645) peças bibliográficas estimados e raros livros, evidentemente para esmerados bibliófilos de forte & vantajosos cabedais. Uma luxúria!; a Livraria Moreira da Costa (Porto) lançou o seu Boletim de Setembro, com um conjunto de peças portuenses muito estimadas. Em atenção o lote de Annuarios da Academia Polytechnica do Porto e um outro [Boletim] da Sociedade de Geografia, de merecida estimação.

- [LÁ POR FORA] Chama-se à pedra o 93 º Catálogo (online) de/sobre Aleister Crowley, que a estimada Weiser Antiquarian Books promove. Estas raridades, manuscritos e livros deste antiquário são para iniciados nos mistérios do mago "negro" ou colecionadores afortunados; a Liber Rarus, de São Paulo (Brasil) apresenta novidades na sua página, algumas referentes à paróquia. A ver com atenção; a 2ª parte da Biblioteca de Patrick de Brou de Laurière [clicar para ver o Catálogo] segue no próximo dia 1 de Outubro. Excelente lote de livros de arqueologia, a ler com atenção.

- [Vinil à Portuguesa - especial melómanos ou celestial música para curiosos ouvidores] o sempre estimado Bernardo Trindade, da preciosa Livraria Campos Trindade, promove no dia 8 de Outubro (a partir das 11 horas) uma Venda Especial de Discos de Vinil (em todas as suas rotações por minuto), colheita indígena de vários anos. Já por lá vimos um Artur Paredes, peça de colecção. A não perder!

VERGÍLIO FERREIRA




in VERGÍLIO FERREIRA uma semana de coloquios e de cinema, Editorial Inova, 1977

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MOLÉSTIA COLOSSAL


"Coveiro – Encarregado de esconder os segredos do boticário e as asneiras do médico" [in Dicionário João Fernandes, 1878]

A colecção de memórias económico-políticas destes últimos 30 anos (trinta e seis, mais exatamente) é colossal. O encontradiço apanha, na sua infecta relaxação, desde logo a figura do pregoeiro dr. Cavaco (o custo psicológico da crise), apanhando, nesta bula do mainstream economics, alguns mitos vivos da paróquia (que curiosamente não nos largam a braguilha televisiva) e que o repertório cavaquista construiu na sua irremissível tragédia – o inenarrável dr. Catroga; o fabulista & mui bem reformado (post tot tantosque labores) Silva Lopes; depois (ou ex-ante) o implacável homúnculo da vera casta económica, o dr. Bessa e as suas tábuas macroeconómicas; o galante homo ludens da estética económica, Miguel Beleza, um purista clássico na capacidade de gozo; os sempre sábios, o utilitário mercantil Braga de Macedo e o merceeiro (também investido de pitonisa) Medina Carreira.

A não esquecer, evidentemente, a presença desse durável alumbrado, Mira Amaral, posto que decorado, em evidência, pela sua discursata apofântica sobre a nova catalaxia, enquanto que, e curiosamente, o aprendiz (no sentido literal) leitor do The Wealth of Nations, o meante Pina Moura, depois de abolido os vínculos, surge cada vez mais insuspeito, mas por vezes pouco inventivo nas divinas parábolas sobre a ortodoxia do mercado. Já o mesmo não é de dizer, quando se escancara o asilo económico, do ex-vencido da economia, o autorizado "burger" Luís Campos e Cunha, agora misteriosamente arredado do respeitável auditório, ao que julgamos por modéstia ou puro amadorismo. Respirai, pois, a fragrância destes cultivadores da poção económica & financeira, o exército de reserva do dr. Cavaco, ad majorem gloriam.

A conversa em família do presidente Cavaco, ontem na TVI, vem confirmar a sua atávica irresponsabilidade política e desvela (à margem) a sua imutável estratégica de desenvolvimento económico (a doxa cavaquista no seu melhor), aquela que nos colocou na penúria e nos faz cair na barbárie. Cavaco, que curiosamente apareceu travestido de professor, confeccionando a matéria da aula sobre o exaurimento financeiro, lamentou que os seus apelos (?) sobre a "situação explosiva" financeira em curso não fossem "ouvidos", esquecendo (com dolo) que sempre foi um lídimo apoiante da governação de Sócrates & Teixeira dos Santos (uns reformadores da pátria, no seu preclaro entendimento).

A barrela que agora pretende fazer é, sem sombra de dúvida, tardia, pouco habilidosa, inoperante. É tarde! Demasiado tarde! Cavaco - que nunca foi um estadista sério e consistente, um político completo, antes um simples técnico (e garantidamente medíocre) - não tem autoridade política (o monstro financeiro tem a sua paternidade) para procriar lamentações. E se nos lembrarmos que, ainda há poucos anos, nos requintou com a exaltação de se seguir o "excelente" trabalho da economia madeirense, então a tragédia está consumada. Não é por acaso que Jardim é deixado em sossego paroquial. O sr. Silva entende que pode dormir, para todo o sempre, indiferente às dívidas, tropelias e abusos daquele indivíduo.

Depois, em transe dominical, o putativo técnico faz recomendações à governança europeia. Do memorandum cavaquista, para além da bem humorada mensagem filosofante para "um programa de competitividade, crescimento e emprego", com insólitos remoques a frau Merkel, ressalva-se o projecto singular de um BCE a produzir "infinitamente" moeda (honeste vivere que tanto alumiou os governos de Cavaco) para cobrir a indisciplina orçamental dos estados. A exortação de Cavaco é bem conhecida. E temos fundadas razões para não aderir a este santo padroeiro, que em tempos frequentou York.

"Lass dir zeit", dr. Cavaco!

EU SOU ...



Eu sou
o mais boquiaberto
dos ministros.

Estas finanças
doem
como um calo.

Estas finanças
devem ser um galo
cantando o ouro
que urinam
as crianças.

Estas finanças
devem ser um falo
ubérrimo Brasil
de esquálidas
donzelas.


[Armando da Silva Carvalho, in Ovos d’oiro, 1969]

… de regresso ao V. aconchego, contra o sono do esquecimento. Boa noute.

Vale!